Como de costume, o título do texto é um pouco diferenciado. Se eu
me deparasse com um desse imagino que minha conclusão sobre tal variaria
conforme o humor, podendo ser taxado como idiota ou interessante. Mas este não
é o caso, alias, o título é justamente o fato a ser discorrido.
Vida que se vive. Que
vida 'cê' vive? 'Cê' vive sua vida? Vive vida vivida.
É o privilégio que
todos nós possuímos, a vida, mas nem todos vivem ela como querem, ou se quer
vivem ela. Confuso, não? E é, ter a vida é algo mecânico, todos têm, porém será
que vivemos ela? Como a vida deve ser vivida (se é que deve)? Ninguém nasce com
um manual, ou uma trajetória em mãos, há quem acredite que os caminhos são
traçados desde a fecundação, particularmente não tenho essa crença. Acredito
que a vida é um papel em branco, o tamanho deste papel não é de acordo
com a quantidade de tempo que é vivido, mas com a quantidade de ações vividas,
pois a vida é muito complexa para ser transcrita em meras linhas horizontais ou
verticais. Os primeiros rabiscos são feitos assim que expelido da camada
maternal, ou a partir da formação completa do feto, não fiquemos presos ao
início, pois o melhor é o que está por vir, o espetáculo está na trajetória,
não percamos tanto tempo ao ponto de deixá-lo passar sem viver.
Não se desenha uma
vida de lápis, a ferramenta utilizada é caneta esferográfica transparente de
tinta preta (rs), qualquer suposta linha errada não pode ser apagada, não há corretivo
que faça esquecer essa, o que não impede o uso de macetes, como uma aspa ali,
uma parêntese aqui, uma rasura acolá. Mas a utilização desses recursos interfere
na beleza estética do trabalho final. Dessa forma uma vida bem vivida é toda
bonitinha sem rasuras ou uma de caligrafia aramaica arcaica? Deixo essa
conclusão para vocês, vale ressaltar que beleza estética não obriga uma vida
bem vivida.
Vira e mexe uma caneta
esbarra em outra, resultando em uma bela história feita conjunta, ou até mesmo
uma interrompendo a outra. Porque os animais têm dessas coisas de querer borrar
ou acabar com o desenho do outro, mas ainda bem que não são todos que possuem
esse desejo ou que realizam esse ato. Do encontro de duas tintas pretas pode
sair verdadeiras obras de arte.
Como podem ter notado
acordei meio metafórico (rs), pararei por que nem todos gostam ou compreendem.
Retomando a uma indagação do inicio " 'Cê' vive sua vida", esse
questionamento surge por motivos os quais não consigo entender, algumas
pessoas deixam de viver suas próprias vidas para viver a dos outros, ou passam
sua vida vivendo a vida dos outros. E há os casos daqueles que deixam que os
outros vivam sua vida. Não da para dizer qual é o pior, mas imagino que todos
são péssimos. O pior é que são casos frequentes, hoje as três moças da Embratel
passaram todo o percurso do ônibus comentando a vida dos coleguinhas de
trabalho, poxa, um pouco desnecessário em minha concepção, até no coletivo da
para fazer coisas mais produtivas, como por exemplo, ler um livro ou dançar
tango. De fato há aqueles que deixam suas vidas serem tão pacatas ao ponto de
ter que falar da vida badalada do amigo. Aqueles que deixam sua vida ser vivida
por terceiros tendem a ter um final frustrante, pois normalmente só quem vive
sabe o que quer da vida. Caso seguisse o que mamãe queria que eu fosse, hoje
estaria em um cursinho preparatório para vestibulares com o intuito de ser
aprovado em uma faculdade para cursar medicina, mas não deixei ser levado por
este plano maquiavélico e olha que foi bem planejado, ela até já tinha
preparado o nome, Dr. Lucas, igual ao da bíblia. Sei que mamãe tinha essa
pretensão para que eu tivesse uma 'vida boa'. O que ela não imaginou é que essa
não era a vida que eu queria para mim, por isso em março estarei na
universidade cursando o curso de meu gosto.
É um grande erro viver a
vida do outro, é um grande erro deixar que nossa vida seja vivida por outro, é
um grande erro abri mão de nossa vida por conta da vida do outro, é um grande
erro viver pela metade. Tens uma vida inteira, pois viva por inteiro, verá que
bons resultados virão.
Para o menino de uma dezena e sete unidades viver é remar contra corrente rasgando o
vento de calça abaixo da cintura deixando a cueca azul listrada com cinza à
vista.